Paroles et traduction Carlos Rennó - Hino ao Inominável

Hino ao Inominável

Sou a favor da ditadura, disse ele
Do pau de arara e da tortura, concluiu
Mas o regime, mais do que ter torturado
Tinha que ter matado 30 mil

E em contradita ao que afirmou na cara dura
Disse: Não houve ditadura no país
E no real o incrível, o inacreditável
Entrou que nem um pesadelo infeliz
Ao som raivoso de uma voz inconfiável
Que diz e mente e se desmente e se desdiz

Disse que num quilombo os afrodescendentes
Pesavam sete arrobas e daí pra mais
Que não serviam nem pra procriar
Como se fôssemos, nós negros, animais

E ainda insiste que não é racista
E que racismo não existe no país
Como é possível? Como é aceitável?
Que tal se diga e fique impune quem o diz?
Tamanha injúria não inocentável
Quem a julgou? Que júri? Que juiz?

Disse que agora o índio está evoluindo
Cada vez mais é um ser humano igual a nós
Mas isolado é como um bicho no zoológico
E decretou e declarou de viva voz

Nem um centímetro a mais de terra indígena
Que nela jaz muita riqueza pro país
Se pronuncia assim o impronunciável
Tal qual o nome que tal hino nunca diz
Do inumano ser, o ser inominável
Do qual emanam mil pronunciamentos vis

Disse que se tivesse um filho homossexual
Preferiria que o progênito morresse
Pruma mulher disse que não a estupraria
Porque você é feia, não merece

E ainda disse que a mulher, porque engravida
Deve ganhar menos que o homem no país
Por tal conduta e atitude deplorável
Sempre o comparam com alguns quadrúpedes
Uma maldade, uma injustiça inaceitável
Tais animais são mais afáveis e gentis

Mas quem dirá que não é mais imaginável
Erguer de novo das ruínas o país?
Mas quem dirá que não é mais imaginável
Erguer de novo das ruínas o país?

Chamou o tema ambiental de importante
Só pra vegano que só come vegetal
Chamou de mentirosos dados científicos
Do aumento do desmatamento florestal

Disse que a Amazônia segue intocada
Praticamente preservada no país
E assim negou e renegou o inegável
As evidências que a ciência vê e diz
Da derrubada e da queimada comprovável
Pelas imagens de satélites

E proclamou: Policial tem que matar
Tem que matar, senão não é policial
Matar com dez ou 30 tiros o bandido
Pois criminoso é um ser humano anormal

Matar uns 15 ou 20 e ser condecorado
Não processado e condenado no país
Por essa fala inflexível, inflamável
Que só a morte, a violência e o mal bendiz
Por tal discurso de ódio, odiável
O que resolve são canhões, revólveres

A minha especialidade é matar
Sou capitão do exército, assim grunhiu
E induziu o brasileiro a se armar
Que todo mundo, pô, tem que comprar fuzil

Pois povo armado não será escravizado
Numa cruzada pela morte no país
E num desprezo pela vida inolvidável
Que nem quando lotavam UTIs
E o número de mortos era inumerável
Disse: E daí? Não sou coveiro, e daí?

Os livros são hoje um montão de amontoado
De muita coisa escrita, veio a declarar
Tentou dizer conclamo e disse: Eu canclomo
Não sabe conjugar o verbo conclamar

Clamou que no Brasil tem professor demais
Tal qual um imbecil pra imbecis
Vigora agora o que não é ignorável
Os ignorantes ora imperam no país
O que era antes, ó pensantes, impensável
Quem é essa gente que não sabe o que diz?

Mas quem dirá que não é mais imaginável
Erguer de novo das ruínas o país?
Mas quem dirá que não é mais imaginável
Erguer de novo das ruínas o país?

Chamou de herói um coronel torturador
E um capitão miliciano e assassino
Chamou de escória bolivianos, haitianos
De Paraíba e pau de arara o nordestino

E diz que ser patrão aqui é uma desgraça
E diz que fome ninguém passa no país
Tal qual num filme de terror, inenarrável
Em que a verdade não importa nem se diz
Desenrolou-se, incontível, incontável
Um rol idiota de chacotas e pitis

Disse que mera fantasia era o vírus
E histeria a reação à pandemia
Que brasileiro pula e nada no esgoto
Não pega nada, então também não pegaria

O que chamou de gripezinha e receitou, sim
Sim, cloroquina, e não vacina, pro país
E assim sem ter que pôr à prova o improvável
Um ditador tampouco põe pingo nos is
E nem responde, falador irresponsável
Por todo ato ou toda fala pros Brasis

E repetiu o mote Deus, pátria e família
Do integralismo e da Itália do fascismo
Colando ao lema uma suspeita liberdade
Tal qual tinha parodiado do nazismo

O slogan: Alemanha acima de tudo
Pondo ao invés Brasil no nome do país
E qual num sonho horroroso, detestável
A gente viu sem crer o que não quer nem quis
Comemorarem o que não é memorável
Como sinistras, tristes efemérides

Já declarou: Quem queira vir para o Brasil
Pra fazer sexo com mulher, fique à vontade
Nós não podemos promover turismo gay
Temos famílias, disse com moralidade

E já gritou um dia: Toda minoria
Tem de curvar-se à maioria no país
E assim o incrível, o inacreditável
Se torna natural quanto mais se rediz
E a intolerância, essa sim intolerável
Nessa figura dá chiliques mis

Mas quem dirá que não é mais imaginável
Erguer de novo das ruínas o país?
Mas quem dirá que não é mais imaginável
Erguer de novo das ruínas o país?

Por vezes saem, caem, soam como fezes
Da sua boca cada som, cada sentença
É um nonsense, é um caô, umas fake news
É um libelo leviano ou uma ofensa

Porque mal pensa no que diz, porque mal pensa
Não falo mais com a imprensa, um dia diz
Mas de fanáticos a horda lamentável
Que louva a volta à ditadura no país
A turba cega-surda surta, insuportável
E grita: Mito, eu autorizo, e pede bis!

E disse: Merda, bosta, porra, putaria
Filho da puta, puta que pariu, caguei!
E a cada internação tratando do intestino
E a cada termo grosso e um talquei'

O cheiro podre da sua retórica
Escatológica se espalha no país
Sou imorrível, incomível e imbrochável
Já se gabou em sua tão característica
Linguagem baixo nível, reprovável
Esse boçal ignaro, rei de mimimis

Mas nada disse de Moise Kabagambe
O jovem congolês que foi aqui linchado
Do caso Evaldo Rosa, preto, musicista
Com a família no automóvel baleado

Disse que a tropa não matou ninguém, somente
Foi um incidente 80 tiros de fuzis
O exército é do povo e não foi responsável
Falou o homem da gravata de fuzis
Que é bem provável ser-lhe a vida descartável
Sendo de negro ou de imigrante no país

Bradou que o presidente já não cumprirá
Mais decisão do magistrado do Supremo
Ao qual se dirigiu xingando: Seu canalha!
Mas, acuado, recuou do tom extremo

E em nota disse: Nunca tive intenção
De agredir quaisquer Poderes do país
Falhou o golpe, mas safou-se o impeachável
Machão cagão de atos pusilânimes
O que talvez se ache algum herói da Marvel
Mas que tá mais pra algum bandido de gibis

Mas quem dirá que não é mais imaginável
Erguer de novo das ruínas o país?
Mas quem dirá que não é mais imaginável
Erguer de novo das ruínas o país?

E sugeriu pra poluição ambiental
É só fazer cocô dia sim, dia não
E pra quem sugeriu feijão e não fuzil
Querem comida? Então dá tiro de feijão

É sem preparo, sem noção, sem compostura
Sua postura com o posto não condiz
No entanto, chega, vai agora, inominável
Cravou o maior poeta vivo no país
E ecoou o coro: Fora, inominável!
E o panelaço das janelas nas metrópoles

E numa live de golpista prometeu
Sem voto impresso não haverá eleição
E praguejou pra jornalistas: Cala a boca!
Vocês são uma raça em extinção

E no seu tosco português ele não para
Dispara sempre um disparate o que maldiz
Hoje um mal-dito dito dele é deletável
Pelo Insta, Face, YouTube e Twitter no país
Mas para nós, mais do que um post, é enquadrável
O impostor que com o posto não condiz

Disse que não aceitará o resultado
Se derrotado na eleição da nossa história
E eu tenho três alternativas pro futuro
Ou estar preso, ou ser morto ou a vitória

Porque somente Deus me tira da cadeira
De presidente, ó Deus, proteja esse país
Tivéssemos um parlamento confiável
Sem estes comparsas e cupinchas, cúmplices
E seu impeachment seria inescapável
Com N inquéritos, pedidos, CPIs

Não há cortina de fumaça indevassável
Que encubra o crime desses tempos incivis
E tampe o sol que vem com o dia inadiável
E brilha agora qual farol na noite gris

É a esperança que renasce onde há véu
De um horizonte menos cinza e mais feliz
É a passagem muito além do instagramável
Do pesadelo à utopia por um triz

No instante crucial de liberdade instável
Pros democráticos de fato, equânimes
Com a missão difícil, mas realizável
De erguer das cinzas como fênix o país

E quem dirá que não é mais imaginável
Erguer de novo das ruínas o país?
E quem dirá que não é mais imaginável
Erguer de novo das ruínas o país?

Mas quem dirá que não é mais imaginável
Erguer de novo das ruínas o país?
Mas quem dirá que não é mais imaginável
Erguer de novo das ruínas o país?

Hymn to the Unnameable

“I’m in favor of the dictatorship,” he said,
“Of the ‘pau de arara’ and torture,” he concluded.
“But the regime, more than having tortured,”
“Should have killed 30,000.”

And contradicting what he stated brazenly,
He said, “There was no dictatorship in this country.”
And in reality, the unbelievable, the incredible,
He entered like a miserable nightmare,
To the rabid sound of an untrustworthy voice
That lies and deceives, contradicts itself.

He said that in a ‘quilombo’ the Afro-descendants
Weighed seven ‘arrobas’* and even more,
That they were not even good for procreating,
As if we, the Black people, were animals.

And he still insists that he’s not racist
And that racism doesn’t exist in this country.
How is that possible? How is that acceptable?
That such things are said with impunity?
Such an inexcusable offense!
Who judged it? What jury? What judge?

He said that now the indigenous people are evolving,
That each day they’re more human, more like us.
But isolated, they are like animals in the zoo.
And decreed and declared in a loud voice:

“Not one more centimeter of indigenous land,
For it holds great wealth for this country!”
Thus speaks the unspeakable one,
Whose name this hymn will never mention,
The inhuman being, the unnameable being,
From whom a thousand vile pronouncements emanate.

He said that if he had a homosexual son,
He would rather see his offspring dead.
To a woman he said he wouldn't rape her
“Because you’re ugly, you don’t deserve it.”

And he also said that women, because they get pregnant,
Should earn less than men in this country.
For such deplorable conduct and attitude,
He’s constantly compared to some quadrupeds.
A wickedness, an unacceptable injustice:
Such animals are kinder and gentler.

But who’d dare say it’s no longer imaginable
To raise this country from its ruins once again?
But who’d dare say it’s no longer imaginable
To raise this country from its ruins once again?

He called the environmental issue important
Only for vegans who eat only vegetables.
He called scientific data lies
When it came to the increase in deforestation.

He said that the Amazon remains untouched,
Practically preserved in this country.
And thus, he denied and refuted the undeniable,
The evidence that science sees and states:
The proven deforestation and burning,
Through satellite images.

And proclaimed, “Police have to kill,
They have to kill; otherwise, they’re not police.
Kill the bandit with 10 or 30 shots,”
“Because a criminal is an abnormal human being.”

Kill 15 or 20 and be decorated,
Not prosecuted and condemned in this country.
For this inflexible, flammable speech
That only blesses death, violence, and evil.
For such hateful, abhorrent discourse,
The solution is cannons, revolvers.

“My specialty is killing,”
“I’m an army captain,” he growled,
And he induced Brazilians to arm themselves,
“Everyone, man, has to buy a rifle.”

Because an armed people will not be enslaved,
In a crusade for death in this country,
And in unforgettable contempt for life,
As when ICUs were overflowing,
And the death toll was countless,
He said, “So what? I’m not an undertaker, so what?”

“Books today are a bunch of piled-up
Stuff written,” he declared.
He tried to say, “I cancel” and said, “I canclomo.”
He doesn’t know how to conjugate the verb “to cancel.”

He claimed that in Brazil, there are too many teachers,
Like an imbecile to imbeciles.
What’s undeniable now prevails:
The ignorant now rule in this country.
What was once, oh thinkers, unthinkable,
Who are these people who don’t know what they’re saying?

But who’d dare say it’s no longer imaginable
To raise this country from its ruins once again?
But who’d dare say it’s no longer imaginable
To raise this country from its ruins once again?

He called a torturing colonel a hero,
And a militia captain and murderer.
He called Bolivians and Haitians scum,
And those from Paraíba* “pau de arara” Northeasterners.

And he says that being a boss here is a disgrace,
And he says that no one goes hungry in this country.
Just like in an unspeakable horror film,
Where truth doesn’t matter nor is it spoken,
An untold, countless number of
Idiotic taunts and tantrums unfolded.

He said the virus was just a fantasy,
And the reaction to the pandemic, hysteria.
That Brazilians jump and swim in sewage,
They don’t catch anything, so they wouldn't catch this either.

What he called a “little flu” and for which he prescribed, yes,
Yes, chloroquine, and not a vaccine, for the country.
And so, without having to prove the improbable,
A dictator does not dot his I’s either,
Nor does he answer, the irresponsible talker,
For any act or any word to the Brazilians.

And he repeated the motto “God, Fatherland, and Family,”
From Integralism and Fascist Italy,
Attaching to the motto a suspicious “freedom,”
Just as he had parodied Nazism’s

Slogan, “Germany above all,”
Placing “Brazil” instead of the country’s name.
And as in a horrible, detestable dream,
We witnessed in disbelief what we didn't want nor asked for:
The commemoration of the unmemorable,
Like sinister, sad ephemera.

He already declared, “Whoever wants to come to Brazil
To have sex with women, feel free.
We cannot promote gay tourism.
We have families,” he said with morality.

And one day he shouted, “Every minority
Must bow to the majority in this country!”
And so the unbelievable, the incredible,
Becomes natural the more it’s repeated.
And intolerance, that’s what's intolerable,
This figure throws a fit.

But who’d dare say it’s no longer imaginable
To raise this country from its ruins once again?
But who’d dare say it’s no longer imaginable
To raise this country from its ruins once again?

At times, they come out, they fall, they sound like feces,
From his mouth, every sound, every sentence.
It’s nonsense, it’s bullshit, it’s fake news,
It’s a frivolous libel or an offense.

Because he hardly thinks about what he says, because he hardly thinks.
“I don’t talk to the press anymore,” he says one day.
But the horde of fanatics is deplorable,
Praising the return of the dictatorship in this country.
The blind-deaf mob goes wild, unbearable,
And shouts, “Myth, I authorize you,” and asks for more!

And he said, “Shit, crap, damn, slutty,”
“Son of a bitch, bitch, I shit!”
And with every hospitalization, treating his intestines,
And every rude term, a “whatever.”

The rotten smell of his rhetoric,
So scatological, spreads across the land.
“I’m immortal, inedible, and unimpeachable,”
He already boasted, in his so characteristic
Low-level, reprehensible language,
This ignorant fool, the king of tantrums.

But he said nothing of Moïse Kabagambe,
The young Congolese man who was lynched here.
Of the case of Evaldo Rosa, a Black man, a musician,
Shot in the car with his family.

He said that the troops didn't kill anyone, only
It was an “incident,” 80 shots from rifles.
“The army belongs to the people and was not responsible.”
Said the man with the rifle tie.
Whose life is quite possibly disposable,
Being Black or an immigrant in this country.

He yelled that the president will no longer comply
With any decision of the Supreme Court magistrate,
To whom he addressed, cursing, “You scoundrel!”
But, cornered, he backed down from the extreme tone.

And in a note, he said, “I never intended
To offend any of the Powers of this country.”
The coup failed, but the impeachable one got away,
A cowardly bully with cowardly acts,
Who perhaps thinks he’s some Marvel hero,
But who’s more like some comic book villain.

But who’d dare say it’s no longer imaginable
To raise this country from its ruins once again?
But who’d dare say it’s no longer imaginable
To raise this country from its ruins once again?

And suggested that for environmental pollution,
“Just poop every other day.”
And to those who suggested beans instead of rifles,
“Want food? Then shoot bean bullets.”

He is clueless, senseless, without composure,
His posture does not match his position.
However, enough, go now, unnameable one!
Declared the greatest living poet in this country,
And the chorus echoed, “Out, unnameable one!”
And the banging of pots from windows in the cities.

And in a coup-mongering live stream, he promised
Without a printed vote, there will be no election.
And cursed at journalists, “Shut up!”
“You are a dying breed.”

And in his coarse Portuguese, he doesn’t stop,
Always firing off some blunder, cursing.
Nowadays, his every cursed word is deletable
From Instagram, Facebook, YouTube, and Twitter in this country.
But for us, more than a post, it's frame-worthy,
The imposter whose behavior doesn't match his position.

He said that he will not accept the result
If defeated in the election of our history.
“And I have three alternatives for the future:
Being imprisoned, being killed, or victory.”

“Because only God removes me from the chair
Of president, oh God, protect this country.”
If only we had a trustworthy parliament,
Without these cronies and accomplices,
His impeachment would be inevitable,
With countless inquiries, requests, and parliamentary commissions of inquiry.

There’s no impenetrable smokescreen
To conceal the crime of these uncivil times
And block the sun that comes with the inevitable day,
Shining now like a beacon in the gray night.

It’s hope reborn where there’s a veil
Of a less gray and happier horizon.
It’s the passage far beyond the Instagrammable,
From nightmare to utopia by a hair.

In this crucial moment of unstable freedom,
For the truly democratic, fair,
With the difficult but achievable mission
Of raising the country from the ashes like a phoenix.

And who’d dare say it’s no longer imaginable
To raise this country from its ruins once again?
And who’d dare say it’s no longer imaginable
To raise this country from its ruins once again?

But who’d dare say it’s no longer imaginable
To raise this country from its ruins once again?
But who’d dare say it’s no longer imaginable
To raise this country from its ruins once again?