Paroles et traduction Marco Aurélio - O Menino da Porteira

O Menino da Porteira

Toda vez que eu viajava pela estrada de Ouro Fino
De longe eu avistava a figura de um menino
Que corria, abria a porteira, depois vinha me pedindo
Toque o berrante seu moço que é pra eu ficar ouvindo

Quando a boiada passava e a poeira ia baixando
Eu jogava uma moeda, ele saia pulando
Obrigado, boiadeiro, que Deus vá lhe acompanhando
Praquele sertão à fora meu berrante ia tocando

Nos caminhos, nessa vida muito espinho eu encontrei
Mas nenhum calou mais fundo do que isso que eu passei
Na minha viagem de volta qualquer coisa eu cismei
Vendo a porteira fechada, o menino não avistei

Apiei do meu cavalo num ranchinho à beira chão
Vi uma mulher chorando, quis saber qual a razão
Boiadeiro, veio tarde, veja a cruz no estradão
Quem matou o meu filhinho foi um boi sem coração

Lá pras bandas de Ouro Fino levando gado selvagem
Quando passo na porteira até vejo a sua imagem
O seu rangido tão triste mais parece uma mensagem
Daquele rosto trigueiro desejando-me boa viagem

A cruzinha do estradão do pensamento não sai
Até fiz um juramento e não esqueço jamais
Nem que meu gado estoure, que eu precise ir atrás
Nesse pedaço de chão berrante eu não toco mais

The Boy at the Gate

Every time I traveled the road to Ouro Fino,
From afar I'd see the figure of a young boy,
Who'd run and open the gate, then ask of me,
"Blow your horn, mister, so I can hear its glee."

When the cattle passed and the dust began to settle,
I'd toss him a coin, and he'd jump and prattle,
"Thank you, drover, may God go with you on your way,"
Into that vast hinterland, my horn would play.

On the roads, in this life, many a thorn I've met,
But none cut deeper than this one, I can't forget.
On my return journey, something felt amiss,
Seeing the gate closed, the boy I couldn't dismiss.

I dismounted my horse at a small ranch nearby,
Saw a woman weeping, I asked her, "Why, oh why?"
"Drover, you're too late, see the cross on the road's bend,
A heartless steer killed my little boy, my friend."

Near Ouro Fino, driving wild cattle along,
When I pass the gate, I can almost hear his song,
Its mournful creak, like a message from above,
From that tanned face, wishing me safe travels, my love.

The little cross on the road, from my thoughts, won't depart,
I made a vow, I'll never forget, in my heart,
Even if my cattle stampede and I must give chase,
On this piece of land, my horn I'll no longer embrace.