Текст и перевод песни Sid - Carta Nº 2

Carta Nº 2

(Também conhecido como Migli, apelido que minha mãe me deu)
(Como vocês puderam ver, meu ano de 2009 foi horrível)
(E eu não tinha como imaginar que 2010 seria pior)
(A essa altura eu me cortava há mais ou menos seis meses)
(E esse péssimo hábito já havia virado meu melhor amigo)

(Na escola nada melhorou, eu continuava sendo maltratado)
(E na melhor das hipóteses ignorado)
(A única pessoa que me entendia um pouquinho era minha mãe)
(Que tava muito ausente em casa devido a uma promoção no trabalho)
(Eu poderia contar todos os detalhes da minha vida pra vocês)
(Cada lágrima, cada choro, cada desilusão)
(Porém irei contar o dia em que minha vida mudou por conta da violência)
(O que me levou até aqui, o fundo do poço)
(Essa é a carta nº 2)

Na escola eu continuava antisocial
A maioria dos alunos me tratava mal
Eu tinha medo de surtar igual um americano
Comprar um cano e ver todo mundo ser legal

Pedi pra Deus o amor deles
Pedi pra Deus o perdão deles
Pedi pra Deus a morte de alguns deles
Mas Deus nunca me ouviu
Porque sempre ouvia eles

Meu choro tinha gosto de passado ruim
Meus braços tinham marcas de um presente péssimo
Meu coração sonhava com um futuro bom
Pena que minha realidade não chegava perto

Cheguei em casa da escola depois do meio dia
Ouvi minha chorar baixinho lá no quarto dela
Perguntei se tava tudo bem
Ela raramente se abria, eu não me abria também

Ela desceu nós almoçou em silêncio
Sem meu pai em casa o clima era menos tenso
Ela tava com energia pesada igual aço
Percebi que ela tinha hematomas no braço
Disse que esbarrou na porta do carro
Com pressa indo pro trabalho
Que uma pomada resolve

Disse que tinha dor de cabeça
Botou aspirina no copo, disse ainda bem que dissolve
Aquela noite após o jantar
Ouvi meus brigando, gritando
E fiquei assustado
O barulho de coisa quebrando, porta batendo
Enquanto eu ainda me cortava no quarto

Na manhã seguinte a caminho na escola
Vi que minha mãe tinha um corte na nuca
Pensei em perguntar o que houve
Mas ela não me falaria, sempre dava desculpa
Passei o dia com essa ideia encucada
Será que meus pais tão bem? Ela tá sempre machucada
Meu pai tá bebendo mais do que nunca
Sei que não sou exemplo
Mas não me parece uma boa estrada

Nunca vou esquecer esse dia
2010, sábado, vinte de novembro
Noite quase sem Lua, muita chuva
Pode me perguntar os detalhes que eu me lembro

Ouvi meus pais discutindo, meu pai perdendo a cabeça
Gritando que a culpa era dela, quebrando as coisa da mesa
Lembro de ouvir o barulho do tapa dele
Do choro dela, da chuva na telha
E da minha covardia

Eu queria levantar e parar ele
Chamar a polícia, chamar um vizinho
Eu queria ter força pra ajudar minha coroa
Mas o medo que eu tinha era maior que o heroísmo

Eu não conseguia nem salvar minha vida
Como que eu salvaria a dela
Eu me sentia horroroso
Talvez no fundo os alunos da sala tava certo
Eu não passava de um menino medroso

A cada soluço no choro que eu ouvia
Eu fazia um novo corte no pulso
Pensei que se eu puxasse a dor da casa pra minha pele
Talvez diminuísse a dor que ele causava nela

Meu sangue escorria junto com a culpa
Tudo que eu pensava era mãe me desculpa
Desculpa por não conseguir te ajudar
Desculpa por ser um covarde
Desculpa por não ter coragem

(Naquele momento minha vida perdeu o sentido)
(Eu não conseguia ajudar a única pessoa que falava comigo)
(Que não me tratava mal, e que me amava)

(Eu perdi a conta de quantas vezes)
(Eu pensei em sair do quarto de madrugada)
(E matar aquele homem que eu chamava de pai)
(Mas eu tinha medo)
(Medo dele, e mais medo ainda de mim mesmo)
(Agora eu entendi o porquê ela tava tão ausente)

(Não era por conta do trabalho)
(Ela odiava aquela casa tanto quanto eu)
(Eu era muito novo pra entender)
(O porquê ela não saia dali, largava ele e seguia a vida)

(Maldito relacionamento abusivo)
(Usou o sofrimento da minha mãe)
(Pra alimentar o ego daquele imundo)
(E foi ela quem pagou a conta)
(Sozinha)

(Até hoje me pergunto o que seria da minha e de mim)
(Se aquele homem nunca tivesse machucado ela)
(Se o mundo não tivesse criado ele pra ser tão machista)
(Ou se eu tivesse coragem pra fazer alguma coisa)
(Bom, talvez eu não me encontrasse aqui.)

Letter No. 2

(Also known as Migli, a nickname my mom gave me)
(As you could see, my year 2009 was horrible)
(And I couldn't imagine that 2010 would be worse)
(At that point I had been cutting myself for about six months)
(And this bad habit had already become my best friend)

(At school, nothing improved, I was still being mistreated)
(And at best, ignored)
(The only person who understood me a little was my mother)
(Who was very absent at home due to a promotion at work)
(I could tell you all the details of my life)
(Every tear, every cry, every disappointment)
(But I will tell you about the day my life changed because of violence)
(Which led me here, to the bottom of the well)
(This is letter No. 2)

At school I was still antisocial
Most of the students treated me badly
I was afraid of snapping like an American
Buying a gun and seeing everyone be nice

I asked God for their love
I asked God for their forgiveness
I asked God for the death of some of them
But God never listened to me
Because he always listened to them

My tears tasted like a bad past
My arms had marks of a terrible present
My heart dreamed of a good future
Too bad my reality wasn't close

I arrived home from school after midday
I heard my mom crying softly in her room
I asked if everything was okay
She rarely opened up, I didn't open up either

She came down and we had lunch in silence
Without my father at home the atmosphere was less tense
She had heavy energy like steel
I noticed she had bruises on her arm
Said she bumped into the car door
In a hurry going to work
That an ointment solves it

Said she had a headache
Put aspirin in the glass, said good thing it dissolves
That night after dinner
I heard my parents arguing, yelling
And I got scared
The sound of things breaking, doors slamming
While I was still cutting myself in the room

The next morning on my way to school
I saw that my mom had a cut on the back of her neck
I thought about asking what happened
But she wouldn't tell me, she always made excuses
I spent the day with this idea stuck in my head
Are my parents okay? She's always hurt
My dad is drinking more than ever
I know I'm not an example
But it doesn't seem like a good road

I will never forget this day
2010, Saturday, November 20th
Almost moonless night, lots of rain
You can ask me the details I remember

I heard my parents arguing, my dad losing his mind
Screaming that it was her fault, breaking things on the table
I remember hearing the sound of his slap
Her crying, the rain on the roof
And my cowardice

I wanted to get up and stop him
Call the police, call a neighbor
I wanted to have the strength to help my queen
But the fear I had was greater than heroism

I couldn't even save my own life
How could I save hers
I felt horrible
Maybe deep down the kids in the classroom were right
I was nothing but a scared boy

With every sob in the cry I heard
I made a new cut on my wrist
I thought that if I pulled the pain from the house to my skin
Maybe it would lessen the pain he caused her

My blood flowed along with the guilt
All I thought was mom I'm sorry
Sorry for not being able to help you
Sorry for being a coward
Sorry for not having the courage

(At that moment my life lost its meaning)
(I couldn't help the only person who talked to me)
(Who didn't treat me badly, and who loved me)

(I lost count of how many times)
(I thought about leaving the room at dawn)
(And killing that man I called father)
(But I was afraid)
(Afraid of him, and even more afraid of myself)
(Now I understood why she was so absent)

(It wasn't because of work)
(She hated that house as much as I did)
(I was too young to understand)
(Why she didn't leave there, leave him and move on with her life)

(Damn abusive relationship)
(Used my mother's suffering)
(To feed that filthy man's ego)
(And she was the one who paid the bill)
(Alone)

(To this day I wonder what would have become of me and my life)
(If that man had never hurt her)
(If the world hadn't created him to be so sexist)
(Or if I had the courage to do something)
(Well, maybe I wouldn't be here.)