Текст и перевод песни Vinicius de Moraes - Rosário

Rosário

Rosário

E eu que era um menino puro
Não fui perder minha infância
No mangue daquela carne!

Dizia que era morena
Sabendo que era mulata
Dizia que era donzela
Nem isso não era ela
Era uma moça que dava

Deixava... mesmo no mar
Onde se fazia em água
Onde de um peixe que era
Em mil se multiplicava
Onde suas mãos de alga
Sobre meu corpo boiavam
Trazendo à tona águas-vivas
Onde antes não tinha nada

Quanto meus olhos não viram
No céu da areia da praia
Duas estrelas escuras
Brilhando entre aquelas duas
Nebulosas desmanchadas

E não beberam meus beijos
Aqueles olhos noturnos
Luzindo de luz parada
Na imensa noite da ilha!

Era minha namorada
Primeiro nome de amada
Primeiro chamar de filha...
Grande filha de uma vaca!

Como não me seduzia
Como não me alucinava
Como deixava, fingindo
Fingindo que não deixava!

Aquela noite entre todas
Que cica os cajus! travavam!

Como era quieto o sossego
Cheirando a jasmim-do-cabo!

Lembro que nem se mexia
O luar esverdeado
Lembro que longe, nos Ionges
Um gramofone tocava

Lembro dos seus anos vinte
Junto aos meus quinze deitados
Sob a luz verde da lua

Ergueu a saia de um gesto
Por sobre a perna dobrada
Mordendo a carne da mão
Me olhando sem dizer nada

Enquanto jazente eu via
Como uma anêmona na água
A coisa que se movia
Ao vento que a farfalhava

Toquei-lhe a dura pevide
Entre o pêlo que a guardava
Beijando-lhe a coxa fria
Com gosto de cana brava

Senti à pressão do dedo
Desfazer-se desmanchada
Como um dedal de segredo
A pequenina castanha
Gulosa de ser tocada

Era uma dança morena
Era uma dança mulata
Era o cheiro de amarugem
Era a lua cor de prata
Mas foi só naquela noite!

Passava dando risada
Carregando os peitos loucos
Quem sabe para quem, quem sabe?

Mas como me seduzia
A negra visão escrava
Daquele feixe de águas
Que sabia, ela guardava
No fundo das coxas frias!

Mas como me desbragava
Na areia mole e macia!

A areia me recebia
E eu baixinho me entregava
Com medo que Deus ouvisse
Os gemidos que não dava!

Os gemidos que não dava...
Por amor do que ela dava
Aos outros de mais idade
Que a carregaram da ilha
Para as ruas da cidade

Meu grande sonho da infância
Angústia da mocidade

Rosário

Rosário

And I, who was a pure boy,
Didn't lose my childhood
In the mangrove of that flesh!

You said you were morena,
Knowing you were mulata,
You said you were a maiden,
Not even that you were,
You were a girl who gave herself away.

You let yourself go... even in the sea,
Where you made yourself into water,
Where from one fish that you were,
You multiplied into a thousand,
Where your seaweed hands
Floated over my body,
Bringing jellyfish to the surface
Where before there was nothing.

How much my eyes didn't see
In the sky of the beach sand,
Two dark stars
Shining between those two
Unraveling nebulae.

And my kisses didn't drink
Those nocturnal eyes
Shining with still light
In the immense night of the island!

You were my girlfriend,
The first name of a loved one,
The first to be called daughter...
Great daughter of a cow!

How you didn't seduce me,
How you didn't drive me crazy,
How you let yourself go, pretending,
Pretending you weren't letting go!

That night among all,
That stings the cashews! they were getting stuck!

How quiet was the peace,
Smelling of jasmine-of-the-cape!

I remember it didn't even move,
The greenish moonlight,
I remember that far away, in the distances,
A gramophone was playing.

I remember your twenty years
Next to my fifteen lying down
Under the green light of the moon.

You lifted your skirt in a gesture,
Over your bent leg,
Biting the flesh of your hand,
Looking at me without saying anything.

While lying down I saw,
Like an anemone in the water,
The thing that moved
In the wind that rustled it.

I touched your hard bud
Among the hair that guarded it,
Kissing your cold thigh
With the taste of wild cane.

I felt under the pressure of my finger
It come undone, unraveled,
Like a thimble of secrets,
The tiny chestnut,
Greedy to be touched.

It was a morena dance,
It was a mulata dance,
It was the smell of salt air,
It was the moon the color of silver,
But it was only that night!

You passed by laughing,
Carrying your crazy breasts,
Who knows for whom, who knows?

But how it seduced me,
The black slave vision
Of that bundle of waters
That you knew, you kept
At the bottom of your cold thighs!

But how you undressed me
On the soft and smooth sand!

The sand received me
And I softly surrendered
Afraid that God would hear
The moans I didn't make!

The moans I didn't make...
For the love of what you gave
To others older than me
Who carried you from the island
To the streets of the city.

My great childhood dream,
Anguish of my youth.