Vinicius de Moraes - O Mergulhador текст песни

Текст песни O Mergulhador - Vinicius de Moraes



O mergulhador que tem como epígrafe
Um verso que eu acho maravilhoso do poeta Leopardi
Um verso desse maravilhoso poema também que se chama "O infinito"
E′l naufragare è dolce in questo mare
Eu gostaria de mencionar aqui um detalhe
Que para mim é muito importante
É que esse poema foi traduzido e maravilhosamente bem traduzido para o italiano
Por esse poeta que é também um poeta da altura de Leopardi
Que se chama José Pangareth
Como, dentro do mar, libérrimos, os polvos
No líquido luar tateiam a coisa a vir
Assim, dentro do ar, meus lentos dedos loucos
Passeiam no teu corpo a te buscar-te a ti
És a princípio doce plasma submarino
Flutuando ao sabor de súbitas correntes
Frias e quentes, substância estranha e íntima
De teor irreal e tato transparente
Depois teu seio é a infância, duna mansa
Cheia de alísios, marco espectral do istmo
Onde, a nudez vestida de lua branca
Eu ia mergulhar minha face triste
Nele soterro a mão como a cravei criança
Noutro seio de que me lembro, também pleno...
Mas não sei, o ímpeto deste é doído e espanta
O outro me dava vida, este me mete medo
Toco uma a uma as doces glândulas em feixes
Com a sensação que tinha ao mergulhar os dedos
Na massa cintilante e convulsa de peixes
Retiradas ao mar nas grandes redes pensas
E ponho-me a cismar, mulher, como te expandes
Que imensa és tu! Maior que o mar, maior que a infância
De coordenadas tais e horizontes tão grandes
Que assim imersa em amor és uma Atlântida
Vem-me a vontade de matar em ti toda a poesia
Tenho-te em garra, olhas-me apenas
E ouço no tato acelerar-se-me o sangue
Na arritmia que faz meu corpo vil querer teu corpo moço
E te amo, e te amo, e te amo, e te amo
Como o bicho feroz ama, a morder, a fêmea
Como o mar ao penhasco onde se atira insano
E onde a bramir se aplaca e a que retorna sempre
Tenho-te e dou-me a ti válido e indissolúvel
Buscando a cada vez, entre tudo o que enerva
O imo do teu ser, o vórtice absoluto
Onde possa colher a grande flor da treva
Amo-te os longos pés, ainda infantis e lentos
Na tua criação; amo-te as hastes tenras
Que sobem em suaves espirais adolescentes
E infinitas, de toque exato e frêmito
Amo-te os braços juvenis que abraçam
Confiantes meu criminoso desvario
E as desveladas mãos, as mãos multiplicantes
Que em cardume acompanham o meu nadar sombrio
Amo-te o colo pleno, onda de pluma e âmbar
Onda lenta e sozinha onde se exaure o mar
E onde é bom mergulhar até romper-me o sangue
E me afogar de amor e chorar e chorar
Amo-te os grandes olhos sobre-humanos
Nos quais, mergulhador, sondo a escura voragem
Na ânsia de descobrir, nos mais fundos arcanos
Sob o oceano, oceanos, e além, a minha imagem
Por isso, isso e ainda mais que a poesia não ousa
Quando depois de muito mar, de muito amor
Emergido de ti, ah, que silêncio pousa
Ah, que tristeza cai sobre o mergulhador



Авторы: Marcus Vinicius Da Cruz De M. Moraes


Vinicius de Moraes - Antologia Poética
Альбом Antologia Poética
дата релиза
01-01-1977




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