Lyrics Um enorme rabo de baleia - Lucas Santtana
- Que
preguiça!
- Cara,
eu
tava
muito
precisando
dessa
praia,
tô
muito
cansado
- Ai,
e
essa
maresia?!
Nossa,
esse
cheiro
é
bom
demais
- Esse
cheiro
é
uma
delícia,
né?
- Cara,
por
falar
em
cheiro...
Ontem,
no
meio
da
tarde,
eu
senti
o
seu
cheiro
- Sério?
- Eu
tava
num
ônibus,
tava
indo
pra...
pra
aquela
minha
médica
chinesa
- Sei
- Aí
o
seu
cheiro
veio!
O
cheiro
do
seu
corpo!
Cara,
podia
ter
vindo
qualquer
cheiro,
o
cheiro
da
chuva
lá
fora,
da
fumaça
dos
carros,
mas
veio
o
seu
cheiro!
- Cara...!
- Eu
não
tava
nem
pensando
em
você,
eu
tava...
eu
tava
lendo
um
texto
sobre
prosopopeia
- Prosopopeia?
O
que
é
prosopopeia?
- Prosopopeia
é...
como
se
fosse
uma
figura
de
estilo,
assim.
Sabe
quando
você
fala
"o
sol
está
triste"?
É,
quando
você
usa...
usa
os
seres
inanimados,
objetos,
seres
irracionais,
e
mistura
com
ações
e
com
sentimentos
humanos
- E
eu
me
enquadro
o
quê
nisso
tudo?
Nos
seres
irracionais?
- Claro!
Óbvio!
- Cara,
mas
muito
doido.
Seu
cheiro
veio,
assim,
de
baixo
pra
cima,
sabe?
Assim,
como
se
tivesse
no
meu
cabelo,
todo
impregnado.
Muito
doido!
Eu
cheguei
a
procurar
você
no
ônibus
- Mas
cê
sabia
que
eu
não
tava
aqui
- Eu
sabia
que
era
impossível,
você--
você
não
tinha
nem
chegado
- Não,
é,
eu
tava
vindo
de
Santa
Bárbara
do
Oeste.
Eu
te
falei
que
eu
tava
vindo
pra
te
ver
- Pois
é.
O
que
me
deixou
bastante
surpresa,
diga-se
de
passagem
- Por
quê?
- Ah,
porque
é
contra
tudo
o
que
a
gente
tinha
combinado
- Como
assim?
- A
gente
não
tinha
combinado
que
nossos
encontros
seriam
restritos?
- Restritos
como?
- Restritos,
ué.
Sei
lá,
que
nem
nessa
praia
aqui,
vazia.
Esse
cenário
aqui,
que
não
é
meu,
não
é
seu,
não
é
de
ninguém.
Só
a
gente
mesmo
- Pô,
mas
a
gente
já
se
encontrou
em
tantos
outros
lugares
- Eu
sei,
mas
sempre
a
gente
viajando,
sempre
com
a
mala
na
mão,
sempre
na
casa
de
outra
pessoa,
com
as
fotos
de
outras
pessoas
nas
paredes,
enfim...
Não
era
coisa
da
gente
- Pô,
Maria,
você
falando
assim
parece
que
cê
não
lembra
de
nada
que
a
gente
viveu
nesses
últimos
meses
- Ah,
não
é
verdade,
eu
lembro
de
tudo.
Nossa,
eu
lembro
demais
da
primeira
vez
que
a
gente
se
viu,
no
avião
- Lembra
do
"chicken
or
pasta?"?
- Meus
"Blood
Marys"
- Eu
lembro
da
primeira
vez
que
eu
fiquei
nua
pra
você
- Isso
eu
lembro
também
- Lembro
que
você
descobriu
uma
pinta
na
minha
bunda.
Inacreditável!
Sabe
que
ninguém
nunca
tinha
reparado
nessa
pinta?
- Jura?!
É
porque
é
- Era
pequenininha
- É,
e
não
é
na
bunda,
assim,
é
ali
na
dobradiça
da
bunda
- Você
é
muito
observador
- Vem
cá,
cê
ficou
falando
de...
de
encontros
restritos
e
tal,
mas
depois
trouxe
à
tona
todas
as
nossas
primeiras
vezes.
Isso
é
o
quê?
É
uma...
é
uma
maneira
de
continuar
fazendo
planos
entre
a
gente?
- Não,
não
tô
fazendo
plano
nenhum.
Nem
que
eu
tivesse
solteira.
A
gente
não
ia
dar
certo.
Eu
não
consigo
mais
ver
a
gente
junto.
Estranho,
né?
- Nem
se
a
gente
tivesse
um
pacto
de...
infidelidade?
- Mas
não
é
exatamente
isso
que
a
gente
tem
agora?
Figura...!
(Telefone
tocando)
- Alô?
- Alô.
Oi,
tudo
bem?
Desculpa,
cê
tava
dormindo?
- Quem
é?
- É...
você
me
deu
seu
número
no
avião,
lembra?
- Oi,
Maria!
- Não,
não,
meu
nome
é
Alice
- Alice?
Pô,
foi
mal,
Alice,
desculpe
- Tudo
bem
- Eu
não
sei
por
que
que
eu
falei
Maria.
Na
real,
eu
ainda
tô
meio
no
jet
lag
e
eu
tomei
uns
remédios
pra
dormir
no
avião
- É,
você
tava
bem
doidão
naquele
voo
- Ah,
é?
Por
quê?
Eu
falei
alguma
besteira?
- Olha...
Depois
que
cê
entornou
a
segunda
daquelas
garrafinhas
que
a
gente
ganhou
- Putz!
- Cê
começou
a
falar
umas
coisas...
Como
é
que
era
mesmo?
Ah,
um
papo
meio
nada
a
ver
sobre
celulares
e
fósseis
- Celulares
e
fósseis?
- É.
Cê
ficou...
cê
ficou
um
bom
tempo
aí
falando
que
os...
sei
lá,
que
os
celulares
são
feitos
a
partir
do
mundo
mineral.
E
aí
que
eles
tinham
dentro
deles,
assim,
o
resto
de
tempos
passados,
tipo,
que
esses
fósseis
tavam
adormecidos
há
muito
tempo
embaixo
da
terra,
e
aí
a
gente
trouxe
eles
à
tona
e
fica
andando
com
isso
no
bolso.
Uma
mistura
de
Poltergeist
com
Tamagotchi
- Ah,
tá.
Nossa,
eu
não
lembro
de
nada
desse
voo
- Ah,
você
não
lembra?
- Não
lembro.
Mas
eu
tenho
esses
apagões
às
vezes.
Eu
disse
mais
alguma
coisa?
- Você
disse,
sim.
Cê
disse
que
me
conhecia
do
futuro
- Uau!
- É,
e
que
a
gente
morava
numa
fazenda
no
interior
da
Tailândia
- Olha!
- Lá
não
tinha
nem
sinal
de
celular
nem
de
rádio,
nada.
Não
tinha
nem
energia
elétrica,
na
verdade.
E
daí
você
falou
dessa
nossa
vida
no
futuro
- Ah,
é?
E
como
é
que
era
a
nossa
vida
no
futuro?
- Olha,
era
interessante.
A
gente
fica
trepando
sem
parar
e
lendo
muito
- Nossa,
adorei
- É,
não
tinha...
não
tinha
internet,
não
tinha
TV,
não
tinha
nada,
então
basicamente
a
nossa
vida
no
futuro
era
– ou
vai
ser
– trepar,
ler,
comer
e
dormir
muito
- Pô,
adorei
a
nossa
vida
no
futuro,
hein?!
Tomara
que
chegue
logo.
E...
e
sobre
esses
livros
aí?
- Que
livros?
- Ué,
os
livros
que
a
gente
vai
ler
no
futuro
- Não,
você
não
falou
nada
disso
- Ah,
não?
- Cê
apagou,
cê
dormiu
no
meu
colo.
Feito
uma
criança
- Nossa,
que
vergonha
- Não,
não
tem
vergonha,
não.
Eu
achei
bonito
o
jeito
que
cê
se
entrega
- Que
bom.
E
que
horas
são
agora?
- Olha,
são
quase
oito
da
noite
- Caralho,
já
são
oito
da
noite!
- Vem
cá,
cê
tá
com
fome?
Tá
afim
de
comer
alguma
coisa?
- Tô,
tô,
tô
morrendo
de
fome
- Se
eu
te
der
um
endereço,
você
me
encontra
lá
daqui
a,
sei
lá,
meia
hora?
- Beleza,
me
manda
o
endereço
pelo
Whatsapp
- Falou
Um
enorme
rabo
de
baleia
Cruzou
a
sala
Sem
barulho
algum,
o
bicho
afundou
nas
tábuas
E
sumiu
O
que
eu
queria
Era
abraçar
A
baleia
E
mergulhar
Com
ela
E
seguir
Com
ela
E
seguir
Com
ela
E
mergulhar
Com
ela
Sinto
um
tédio
pavoroso
desses
dias
De
água
parada
acumulando
Mosquitos
na
cozinha
E
a
urgência
De
seguir
Para
uma
terça
ou
quarta
boia
Porque
a
vontade
é
de
abraçar
Um
enorme
rabo
de
baleia
E
seguir
Com
ela
E
mergulhar
Com
ela
E
seguir
Com
ela
E
mergulhar
Com
ela
E
seguir
Seguir
Com
ela
E
mergulhar
Com
ela
E
seguir
Seguir
Com
ela
E
mergulhar
Com
ela
Com
ela
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