Paroles et traduction Luiz Marenco - Aquele Zaino

Aquele Zaino

Entre os cavalos que eu tive
Ouve um zaino requeimado
Era bom como um pecado
De pata e rédea, um relampo
Bonito para um passeio
Garboso e atirando o freio
Em toda a lida de campo

Foi de fama, este pingaço
Arrocinado por mim
Orelhas grandes assim
Como pombas haraganas
Por seu galope hay tiranas
Que ainda se alembram de mim

Os grandes tiros de laço
Os de parar a Gauchada
E os pealos de escornada
Mais do que a vista e que ao braço
E os devia ao grande pingo

E quantas vezes, ringindo
Cincha, bastos, e caronas
Me levava às querendonas
Pelas tardes de domingo

Sentava-lhe um cogotilho
Fogoso para um floreio
Mansito para um idílio
Por noites de tempo feio
Certo no rumo ou no trilho
E até recordo um enterro
Em que um taura ia pra toca
Ao tranquito, acompanhando
Meu zaino ia se ladeando
Pra um selim de chinoca

Foi um amigo que eu tive
Este zaino requeimado
Só de lembrá-lo revive
Uma saudade importuna

Nele, firme no lombilho
Eu me sentia um caudilho
Nas vanguardas da coluna

Nos bailes, de madrugada
Ou mesmo n′algum bochincho
Preso ao palanque, alarmado
Chamava o dono enredado
Pelos clarins do relincho

Como a dizer, está na hora
Patrão, de voltar a estância
Já chega de extravagância
Amigo, vamos simbora
Logo as chilenas cantavam
O lenço e o pala ruflavam
E toaditas retrechavam
No galope estrada fora

Por tardes, cabeça erguida
Olhava ao longe desperto
Talvez sonhando a aventura
Da correria e a loucura
De algum sultão do deserto

Dos seus ancestrais, na Ibéria
De certo algum foi montado
Por alguém que não entangue
O tempo a memória de ouro
Batalhas de luso e mouro
Que ainda carrega no sangue

Às vezes corria à toa
Solto, em violento furor
Em tão tremendo atropelo
Tal se levasse de em pelo
Um guarany boleador

Lavado em suor, venta aberta
Uns olhos de javali
Estampa de alarma e alerta
Cogoti de buriti
Com as orelhas mais inquietas
Que gavião quiri-quiri
Como se um canhão tronasse
E o velho Osório o montasse
Nos campos de Tuiuti

That Bay Horse

Among the horses I owned,
There was a dark bay,
He was as good as a sin,
With hooves and reins, a lightning flash.
Beautiful for a ride,
Proud and tossing the bridle,
In every task of the field

He was famous, this fiery one,
Broken in by me,
Big ears like this,
Like lazy doves,
There are still tyrants because of his gallop,
Who still remember me.

The great lasso throws,
The ones that stopped the Gauchada,
And the peeled hides,
More than to sight and arm,
I owed them to the great horse.

And how many times, creaking,
Saddle, stirrups, and rides,
He took me to my sweethearts,
On Sunday afternoons.

I'd sit on a sheepskin,
Fiery for a flourish,
Gentle for an idyll,
On nights of bad weather.
Sure on the path or track,
And I even remember a funeral,
Where a guy was going to the grave,
Calmly accompanying,
My bay horse was siding,
For a china girl's saddle.

He was a friend I had,
This dark bay horse,
Just remembering him revives,
An importunate longing.

On him, firm on the rump,
I felt like a warlord,
In the vanguards of the column.

At dances, at dawn,
Or even in some bar,
Tied to the platform, alarmed,
He called his entangled owner,
With the clarions of his neigh.

As if to say, it's time,
Boss, to return to the ranch,
Enough extravagance,
Friend, let's go.
Soon the Chilean women would sing,
The handkerchief and the shawl would rustle,
And all the girls would retreat,
Galloping down the road.

In the afternoons, head held high,
He looked into the distance, awake,
Perhaps dreaming of the adventure,
Of the rush and madness,
Of some sultan of the desert.

Of his ancestors, in Iberia,
Surely some were ridden,
By someone who doesn't tangle,
Time with the memory of gold,
Battles of Lusitanian and Moor,
That he still carries in his blood.

Sometimes he ran freely,
Loose, in violent fury,
In such a tremendous rush,
As if he were carrying on his back,
A Guarani boleador.

Washed in sweat, nostrils flared,
Eyes of a wild boar,
A look of alarm and alert,
A buriti palm neck,
With ears more restless,
Than a quiri-quiri hawk.
As if a cannon thundered,
And old Osório rode him,
On the fields of Tuiuti.