José Mario Branco - Menina dos meus olhos paroles de chanson

paroles de chanson Menina dos meus olhos - José Mario Branco



Fosse a menina dos meus olhos puta
E fornicara com as televisões;
As duas novas, da greta e da gruta
E as duas velhas p'las mesmas razões
Retangular e omnipresente nesga
Que tem p'ra tudo as melhores soluções
Fosse a menina dos meus olhos vesga
Logo lhe dera as suas atenções
Ai fosses tu menina dos meus olhos
Com teus lacinhos e teus caracóis
A inocência vai nos entrefolhos
E fica a pátria amada em maus lençóis
Entram pelas casas sem ser convidados
Tempos de antena e outros futebois
Ficaram todos mais bem informados
Opinião pública dos urinóis
São cus e mamas a dançar de gatas
Mais as gravatas dos seus figurões
As euforias ficam mais baratas
E domesticam-se as excitações
Pobre menina ficas à janela
Depenincado as tuas distrações
Lavas a loiça, fazes a varrela
Mas essa merda não cede às pressões
Os antropófagos das nossas dores
Tomaram conta da aldeia global
Fazem milhões a converter horrores
Em audiências de telejornal
O insuportável torna-se rotina
E a realidade é virtual
A dor da gente é inesgotável minha
Que lhes rentabiliza o capital
As reportagens e as telenovelas
Juntam os trapos pezinhos de
Com a verdade ali a olhar para elas
Histórias da civilização cristã
não é sangue o líquido vermelho
Que nos reserva o dia de amanhã
E tu menina vais-te vendo ao espelho
E sofres dos dois lados do ecrã
94 chegou à cidade
98 está quase a chegar
Fez 20 aninhos a nossa liberdade
é bem tempo de a desvirginar
E se o dinheiro não felicidade
Televisões bem a puderam dar
Talvez que p'ra manter a sanidade
Eu chegue ao ponto de ter de cegar
E a menina dos meus olhos há-de
Conseguir ver pralém do meu olhar.



Writer(s): José Mário Branco


José Mario Branco - Ao vivo em 1997




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