paroles de chanson A Vítima (Ao Vivo) - Racionais MC's
Naquela
noite
eu
acordei
e
não
sabia
onde
estava
Pensei
que
era
sonho,
o
pesadelo
apenas
começava
Aquela
gente
vestida
de
branco
Parecia
com
o
céu,
mas
o
céu
é
lugar
de
santo
Os
caras
me
perguntando:
"e
aí,
mano,
cê
tá
legal?"
Cheiro
de
éter
no
ar
nunca
é
bom
sinal
Dor
de
cabeça,
tontura
Aquela
sala
rodava
estilo
brisa
de
droga,
loucura
Sangue
na
roupa
rasgada
Fio
de
sutura
me
costura,
porra,
a
gente
não
vale
nada
Do
que
adianta
você
ter
o
que
quer,
Sucesso,
dinheiro,
mulher,
beijando
seu
pé?
E
num
piscar
de
olhos,
é
foda,
Você
é
furado
igual
peneira
ou
sem
valor
numa
cadeira
de
roda.
(O
que
que
eu
tô
fazendo
aqui?)
(Não
quero
admitir)
Meus
parceiros
me
contaram
Cena
após
cena,
passo
a
passo,
o
que
presenciaram.
"Mano,
foi
um
arregaço,
na
Marginal
Você
capotou,
teve
até
uma
vítima
fatal
Da
Zona
Sul
e
tal,
sentido
ao
Centro,
1h
da
manhã"
Lembrei
daquele
momento
Vários
Opala,
mó
carreata
E
eu
logo
atrás
da
primeira
Barca
Diplomata
Tô
dirigindo,
ali
no
volante
Opala
cinza
escuro,
2Pac
no
alto-falante
Por
um
instante
tive
um
mal-pressentimento
Mas
não
liguei,
não
dei
conta,
não
tava
atento
Que
merda,
um
cara
novo
morreu
Fatalidade
é
uma
imprudência,
divergência,
fudeu
Ele
deixou
uma
mulher
que
esperava
um
filho
Um
evangélico
que
nem
conheceu
o
filho
Um
suspiro,
perdi
a
calma
Vi
uma
faca
atravessando
a
minha
alma
Olhei
no
espelho
e
vi
um
homem
chorar
A
mídia,
a
justiça,
querendo
me
fuzilar
Virei
notícia,
primeira
página
Um
paparazzi
focalizou
a
minha
lágrima
Um
repórter
da
Globo
me
insultou
Me
chamava
de
assassino,
aquilo
inflamou
Tumultuou,
nunca
vi
tanto
carniceiro
Me
crucificaram,
me
julgaram
no
país
inteiro
Pena
de
morte,
se
tiver
sorte
Cadeira
elétrica,
se
fosse
América
do
Norte
Opinião
pública
influenciada
Era
um
réu
sem
direito
a
mais
nada
Meu
mundo
tinha
desabado
Na
lei
de
Deus
fui
julgado,
na
lei
do
homem
condenado
Dois
anos
e
pouco
de
audiência
Pra
mim
já
era
o
início
da
minha
penitência
Aquele
prédio
no
Fórum
é
mó
tortura
Ali
na
frente
sempre
para
várias
viatura
O
movimento
é
intenso
o
tempo
inteiro
Parece
o
trânsito,
o
tráfego,
um
formigueiro
Advogado
pra
cima,
pra
baixo
Ganhando
dinheiro
com
mais
um
réu,
eu
acho
Registrei
um
cara
algemado
entrando
De
cabeça
baixa,
me
parecia
um
cara
branco
Esperando
a
vez
de
ser
solicitado
Julgado,
talvez
até
se,
pá,
libertado
Escoltado,
vários
gambé
Esse
daí
não
deve
ser
um
preso
qualquer
Com
a
mão
pra
trás
olhando
pra
parede
Fui
beber
água,
me
deu
mó
sede
Uma
ligação
com
urgência
Meu
advogado,
com
o
resultado
da
sentença
O
celular
tava
falhando
(-Hã?
Alô?)
(-
Não
dá
pra
escutar,
mas
eu
tô
indo
pra
aí,
falou?
Tô
chegando.)
É,
irmão,
fui
de
metrô
Aquele
frio
na
espinha
que
eu
tinha
então
voltou
A
cada
estação
ele
aumentava
Eu
não
sabia
se
descia
ou
s'eu
continuava
A
procura
de
uma
distração,
olhava
o
vagão
lotado,
a
movimentação
Aquele
povo
indo
pra
algum
lugar
Trabalhar,
estudar,
passear,
roubar,
sei
lá
Vi
uma
mina
bonita,
discreta
Pinta
de
modelo,
corpo
de
atleta
Eu
vi
um
cara
lendo,
concentrado
Naipe
de
estudante,
daqueles
filho
dedicado
Vi
uma
tia
crente,
em
pé,
cansada
De
cor
escura,
com
a
pele
enrugada
Ela
me
fez
lembrar
Parece
a
mãe
da
vítima,
como
será
que
ela
deve
tá?
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